Artigo científico destaca atuação da DJ Nanny Ribeiro no Maranhão

 

Na cena musical de São Luís, dentro do universo da discotecagem, cada vez mais, as mulheres tomam conta do seu espaço de visibilidade de maneira legítima e autêntica. Dentro desse protagonismo, destacamos o trabalho da DJ Nanny Ribeiro. 

Moradora do bairro da Liberdade e graduada em licenciatura em teatro na UFMA, Nanny, vai além do intuito de entreter e divertir o público através da Música, ela defende a importância de se assumir um viés político na Arte e ocupar seu lugar social enquanto cidadã de população negra, gorda e LGBT. Para isso, torna a Música presente em seu cotidiano, como ferramenta para ocupar seu lugar de representatividade.

Na pesquisa acadêmica da pernambucana Tamires Gonçalo, estudante de Ciências Sociais, DJ Nanny é inspiração para discorrer sobre as potências políticas na Arte Contemporânea, retratando a força das mulheres pretas dentro dessa construção social.

Segue o artigo:

DJ NANNY RIBEIRO

Por: Tamires Gonçalo[1]

Apresento-lhes a Maranhense DJ Nanny Ribeiro, uma mulher gorda afrocentrada, multiartista, sapatão e macumbeira. Carrega consigo a religiosidade Mina e o poder do matriarcado preto. Licenciada em teatro, é também designer de som, descolonizando-se como tem que ser, constrói sua arte e seu corpo como recurso contra o colonizador. Numa forte interação com os seus ancestrais e o profano suas elaborações partem da própria realidade e outros elementos que lhe atravessam. Seu fazer artístico parte de um processo coletivo entre si e outras individualidades que partilham experiências nem sempre iguais às suas, porém, legítimas na construção social das sujeitas.

Neste sentido, desenvolve desde 2017 o projeto de pesquisa artístico social, “Corpas Dissidentes: Potências Políticas para a cena contemporânea”, que investiga a partir de experiências práticas, as potencialidades políticas e estéticas de corpos dissidentes na cena contemporânea das artes. Dessa pesquisa nasceram vários projetos, o primeiro foi “coisa de preta, gorda, sapatão e macumbeira”, um show que traz a pesquisa de músicas negras, dentro da diversidade diaspórica, discotecando mulheres em suas múltiplas corpas, fomentando representatividade, identidade feminina plural e a felicidade de ser dissidente. Assim marca a cena musical no seu estado ao trazer referências dos ritmos negros de diferentes lugares e varias gerações nos seus sets.

No audiovisual, em 2020, criou um elemento chamado discoperformance, a mistura de mixtape, experimentações sonoras, poesias, performance corpóreas, em formato de vídeo, são elas: A felicidade do corpo gordo, Auxílio emergencial, Diáspora, Memórias afetivas dos anos 2000 e Recife o lugar onde tudo é nem uma, essas duas últimas construídas a partir das experiências de duas residências artísticas. Existe também o projeto em processo, chamado “corpas criaturas existindo da lama ao barro”,  na  construção de um curta metragem mostrando as vivências corpóreas, políticas, sociais, econômicas, artísticas culturais no qual mulheres pretas, indígenas moradores de palafitas das periferias de São Luís do Maranhão e do Recife em Pernambuco, investigando a potência que existe nessa conexão nordestina.

Referência na força das mulheres pretas e no poder matriarcal, tem consciência dos impactos sensoriais que a música causa, promovendo nas suas produções experimentais o movimentar do corpo dando a esse outras formas de ouvir e sentir, com grande potencial para transformar as subjetividades e sacudir da memória e dos corpos as trancas coloniais.  Nas suas próprias palavras “Nós povos pretos, acreditamos que a arte e a vida são uma única coisa, celebramos a nossa existência, a conexão ancestral – espiritual, através da dança e da música, onde existe a facilidade de estar em todos os lugares, momentos, no qual uso a arte para retomar o meu corpo, e das minhas irmãs que foram roubados pela colonização”.

[1] Estudante de Ciências Sociais da UFRPE – Universidade Federal Rural de Pernambuco

 

2 Responses

  1. Eu por ser mãe dessa DJ. Não nego meu orgulho. Seu bem o que passou e passa pra ser conhecida nessa nossa área artística aqui no Maranhão . Do meus parabéns. Pq tudo é conquistado com muita luta ..sabedoria e sim que sempre teve ..sempre quis ser artista …essa mulher forte. Que eu aprendi cada vez mais a admirar e aprendo tbm a viver com ela ..Parabéns DJ Nannny.

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DIÁRIO DE BORDO NO JP

Vanessa Serra é jornalista. Ludovicense, filha de rosarienses.

Bacharel em Comunicação Social – habilitação Jornalismo, UFMA; com pós-graduação em Jornalismo Cultural, UFMA.

Atua como colunista cultural, assessora de comunicação, produtora e DJ. Participa da cena cultural do Estado desde meados dos anos 90.

Publica o Diário de Bordo, todas as quintas-feiras, na página 03, JP Turismo – Jornal Pequeno.

É criadora do “Vinil & Poesia” que envolve a realização de feira, saraus e produção fonográfica, tendo lançado a coletânea maranhense em LP Vinil e Poesia – Volume 01, disponível nas plataformas digitais. Projeto original e inovador, vencedor do Prêmio Papete 2020.

Durante a pandemia, criou também o “Alvorada – Paisagens e Memórias Sonoras”, inspirado nas tradições dos folguedos populares e lembranças musicais afetivas. O programa em set 100% vinil, apresentado ao ar livre, acontece nas manhãs de domingo, com transmissões ao vivo pelas redes sociais e Rádio Timbira.

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