Três anos depois de ter estreado no projeto Vinil & Poesia, o espetáculo “Bob & Bob – I and I”, está de volta. Dessa vez o mix de show e recital acontece nesta quarta-feira (12), como atração especial do projeto Quarta no Solar. No palco, o poeta e letrista Fernando Abreu apresenta canções de Marley e Dylan, os dois Bobs mais influentes da música mundial, mescladas a poemas de sua autoria. O formato já foi testado também em apresentação no Teatro Cazumbá, no início de 2023.
A diferença agora é que, ao lado da guitarra de Lucas Ferreira e do violão do poeta, haverá a presença de contrabaixo, cozinha rítmica e violino, uma formação de banda folk, bem apropriada ao tratamento dado às canções. A trupe ganha ainda o reforço do cantor e compositor Aziz Jr,, interpretando Negro Amor, canção que praticamente apresentou Bob Dylan ao público brasileiro ao ser gravada por Gal Costa, na versão de Péricles Cavalcanti.
Antes do mix de show e recital, o público confere trecho do espetáculo “A Besta Fera”, biografia cênica da médica maranhense Maria Aragão montada e apresentada pela atriz Maria Ethel. Mulher negra, mãe solo e militante comunista, Maria Aragão foi presa e torturada várias vezes pela ditadura militar que dominou o país de 1964 a 1985, tornando-se um ícone maranhense nas lutas democráticas, nome de praça projetada por Oscar Niemeyer.
Durante cerca de uma hora, a trupe passeia por várias fases da extensa obra de Dylan e Marley, costurando canções e poemas pinçados dos livros do poeta. De um total de 11 canções, oito são cantadas no inglês original. As exceções são “Small Axe”, canção guerreira dos primórdios dos Wailers que virou “Machado Afiado”, na versão livre de Abreu em parceria com o poeta Celso Borges (1959-2023).
“Um dia você vai servir a alguém” é a segunda canção entoada na língua pátria, versão de outro convicto dylanófilo, Vitor Ramil, para “Gotta serve somebody” e “Simple Twist of Fate”, onde a dupla de poetas se permitiu um nível tal de liberdade a ponto de homenagear o cantor Chico Maranhão, que aparece citado na música.
Além de reafirmar conexões entre poesia e música popular, o recital presta um despretensioso tributo a dois heróis culturais do século XX. Dylan, um dos construtores do rock como obra de arte, ganhador do Nobel, e Marley, o único superstar mundial egresso de um país na periferia do capitalismo, autor de “Exodus”, disco considerado o mais importante do século XX pela revista Time. “Não tenho conhecimento de nenhuma iniciativa que una a obra desses dois bardos pop, que tem muito mais a ver entre si do que seus primeiros nomes: uma obra capaz de despertar identificação com pessoas do mundo inteiro em gerações diferentes. É isso que celebramos sempre que subimos ao palco com essas canções”, pontua Fernando Abreu.
Vanessa Serra é jornalista. Ludovicense, filha de rosarienses.
