Ocupação Dona Onete no Itaú Cultural

Nesta quarta-feira, 15, o Itaú Cultural abre a primeira mostra da série Ocupação em 2023, inteiramente dedicada à cantora paraense Dona Onete, de 83 anos, que tem uma trajetória longa ligada à cultura, que vai além de ser a Rainha do Carimbó Chamegado. Ela estará na abertura da exposição e fará shows no Itaú Cultural, seguida da também paraense Aíla.

SÃO PAULO – A música, sabores, afetos e cultura paraenses se mesclam na mostra em torno da homenageada, que abriu caminho para as vozes femininas da região e criou o seu próprio estilo de carimbó, adicionando ao gênero um bocado de chamego. A exposição revela, ainda, o papel definitivo de Ionete da Silveira Gama, antes de se tornar Dona Onete, na educação e na militância cultural locais. Ela fará dois shows no palco do IC. Outros dois, serão apresentados pela paraense Aíla.

De 15 de março a 18 de junho, a essência da cultura e ancestralidade que emanam dos cerca de 1,3 milhões quilômetros quadrados do Pará se concentra em São Paulo, em uma área de 117 metros quadrados no térreo do Itaú Cultural. Ocupação Dona Onete, 58ª desta série, é dedicada à cantora e compositora conhecida como Rainha do Carimbó Chamegado, também vista como representante da vida, encantarias, sincretismo e costumes paraenses exaltadas nas letras de suas canções e vestuário nos palcos de todo o Brasil e no exterior.

Composta de quatro eixos – Território, Encantarias e Religiosidade, Túnel e Palco – a Ocupação reúne cerca de 120 itens e aprofunda o público na sua rica e movimentada trajetória. São fotos – muitas do acervo da família –, vídeos, audiovisuais, músicas e manuscritos seus, originais e inéditos, depoimentos dela própria, de seus amigos, companheiros de música e familiares. Artistas paraenses participam da mostra a convite do Itaú Cultural: o coletivo Kambô com uma intervenção na bandeira do Pará – exposta em tecido e em realidade aumentada acessível por meio de um aplicativo que pode ser baixado ali mesmo – e duas fotógrafas, Nay Jinknss e Marise Maues; cada uma apresenta quatro imagens que traduzem o seu olhar sobre o próprio território.

Somam-se às apresentações de Dona Onete no palco da Sala Itaú Cultural, nos dias 16 e 17 (quinta e sexta-feira, às 20h), shows de Aíla, fruto da nova geração musical paraense e, muitas vezes, parceira da homenageada, em 18 e 19 (sábado, às 20h, e domingo às 19h). No fim do mês, a partir das 19h do dia 28, a programação Encontros de Cinema exibe na Sala Vermelha do IC o documentário Terruá Pará, seguido de bate-papo com a diretora do filme, a cineasta paraense Jorane Castro.

Entre encenações que revelam o surgimento da música do estado, desembocando na atual efervescência cultural, a produção traz um olhar integrado sobre os movimentos artísticos locais. Ali, os músicos se tornam personagens: Dona Onete, Manoel Cordeiro, Keila, Pio Lobato, Toni Soares, Os Amantes, Luê, Trio Manari e outros. Em consonância com a plataforma de streaming Itaú Cultural Play, esta exibição inaugura Encontros de Cinema no espaço físico do IC, um lugar permanente de reflexão e troca sobre o audiovisual brasileiro. A programação será mensal, sempre na última terça feira do mês.

A curadoria da mostra é do Núcleo de Artes Cênicas, Literatura e Música da organização. A consultoria é da pesquisadora Josivana de Castro Rodrigues, neta de Dona Onete, e o projeto expográfico, contemplado com mecanismos de acessibilidade, é do Núcleo de Infraestrutura e Produção do Itaú Cultural e da também paraense Patrícia Gondim. De Belém, Geraldinho Magalhães, Marcel Arêde e Viviane Chaves apoiaram a produção.

O Núcleo de Formação do IC preparou atividades que complementam a temática da mostra. Ainda, ela é acompanhada de uma publicação impressa e on-line e um site com material exclusivo. Esta realização é do Núcleo de Comunicação e aprofunda o conteúdo da exposição.

A mostra
Nascida na Ilha do Marajó, crescida no Baixo Tocantins e moradora de Belém faz um par de décadas, hoje Dona Onete soma 83 anos. Ela só alcançou fama, no entanto, quando contava seis décadas de vida. Embora a música e a poesia impregnada de seu entorno natural praticamente tenham nascido com ela, a cantora se empenhou em outras militâncias antes de se tornar Rainha do Carimbó Chamegado.

Dona Onete foi a professora Ionete, seu nome de batismo, adepta dos métodos de Paulo Freire e incansável lutadora por melhorias no ensinona alfabetização e na vida dos professores. Também deixou sua marca na gestão cultural pública sendo responsável por impulsionar grupos de cultura popular.

Assim, a Ocupação Dona Onete percorre todo esse caminho dividido pelos quatro eixos que a compõem. Eles abarcam a sua vida, das terras do norte aos tablados brasileiros e internacionais, passando pela influência da ancestralidade e cultura paraense em suas canções e por suas outras militâncias.

Em Território, a exposição dá a conhecer ao público Cachoeira do Arari, cidade onde Ionete nasceu na Ilha de Marajó, onde passou a infância e dormia sob um lençol salpicado de Lua, como ela mesma diz. Depois, a mostra percorre Igarapé-Miri, no Baixo Tocantins, lugar em que, ainda conhecida pelo nome de batismo, ela consolidou-se como professora, atuou na política cultural e foi militante de movimentos sindicais. Foi lá que, em 1989, criou o grupo folclórico Canarana, estreando com 12 músicas autorais. Por fim, chega-se à capital do estado,  Belém, onde após se aposentar como professora, Ionete foi morar no bairro Pedreira, conhecido como do samba e do amor. Nesta cidade, ela passou a ser reconhecida como Dona Onete, Rainha do Carimbó Chamegado.

O eixo seguinte, Encantarias e religiosidade, apresenta as lendas e encantamentos amazonenses, que ganharam melodia em sua voz, e o sincretismo em suas composições. Esse espaço contém letras manuscritas inéditas de canções dela, como A Lua morenaBanho de cheiro Meu Pará tupiniqui. Também revela originais de músicas conhecidas, como Moreno MorenadoFeitiço Caboclo, que deu nome ao seu primeiro álbum solo lançado em 2013, quando ela tinha 73 anos, e Sonhos de adolescente, escrita em 1957, mas que chegou ao público somente em 2016, presente no álbum Banzeiro.

É possível, ainda, conhecer o seu processo de criação para a composição Jamburana. Também estão presentes pesquisas que ela faz para compor – por exemplo, quando estudou o Açaí, tema da música Balanço do Açaí. Vale contar aqui que Dona Onete se tornou produtora do vinho tinto saboroso, derivado dessa fruta.

Na sequência, o público entra no eixo Túnel, um caminho embalado de sons de Belém que o transporta para o espaço seguinte, Palco. Percebendo que a capital do Pará é uma cidade musical, os curadores e produtores do IC envolvidos nesta Ocupação, foram gravando as diferentes sonoridades que ouviam durante sua permanência por lá: uma série de músicas variadas, muito carimbó – no original e no estilo chamegado de Dona Onete –, sons das ruas e de outros espaços públicos com o do Mercado Ver-o-Peso. Diretamente do Pará, toda essa musicalidade pode ser ouvida neste percurso até chegar no eixo que revela a vida da cantora pelos palcos brasileiros e internacionais.

Em Palco, o visitante entra na expansão de seu universo musical, iniciado nas canções entoadas quando criança à beira do rio para atrair os botos, nas noites de serestas e de carimbó, e nas salas onde dava aula. Em 1989, ela já participava do Grupo Folclórico Canarana, de Igarapé-Miri. Em meados de 1990 atuava no Coletivo Rádio Cipó, em Belém, e participou do conceituado Festival Terruá Pará.

Rapidamente, passou a frequentar os palcos de todo o Brasil e alçou voo, indo para apresentações internacionais, como no Festival Womex, na Finlândia, o Muziek Publique, em Bruxelas, Bélgica, além de fazer shows na Alemanha, Inglaterra, Portugal e outros. Sempre, com uma flor na cabeça, vestuário colorido, saia rodada, adornada com muitos adereços, um sorriso encantador e uma potência inigualável na voz.

 

 

 

(Da redação com informações da Assessoria)

One Response

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

DIÁRIO DE BORDO NO JP

Vanessa Serra é jornalista. Ludovicense, filha de rosarienses.

Bacharel em Comunicação Social – habilitação Jornalismo, UFMA; com pós-graduação em Jornalismo Cultural, UFMA.

Atua como colunista cultural, assessora de comunicação, produtora e DJ. Participa da cena cultural do Estado desde meados dos anos 90.

Publica o Diário de Bordo, todas as quintas-feiras, na página 03, JP Turismo – Jornal Pequeno.

É criadora do “Vinil & Poesia” que envolve a realização de feira, saraus e produção fonográfica, tendo lançado a coletânea maranhense em LP Vinil e Poesia – Volume 01, disponível nas plataformas digitais. Projeto original e inovador, vencedor do Prêmio Papete 2020.

Durante a pandemia, criou também o “Alvorada – Paisagens e Memórias Sonoras”, inspirado nas tradições dos folguedos populares e lembranças musicais afetivas. O programa em set 100% vinil, apresentado ao ar livre, acontece nas manhãs de domingo, com transmissões ao vivo pelas redes sociais e Rádio Timbira.

PIX DIÁRIO DE BORDO SLZ
Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade

Arquivos