A cultura lésbica é o tema da 9ª edição de Todos os Gêneros entre shows, performances, teatro, poesia, debates e audiovisuais

Áurea Maranhão

Atividades presenciais e online são oferecidas ao público durante cinco dias para diferentes reflexões a respeito da temática e da presença de artistas que dão luz à cultura lésbica no cenário das artes no país. As cantoras Zélia Duncan e Dani Nega, a performer Dodi Leal, o coletivo Sarau das Pretas e a ativista indígena Yakecan Potyguara são algumas das convidadas desta edição. E atriz maranhense Áurea Maranhão. Ela é uma das participantes, abordando neste ano a cultura lésbica no universo artístico. Essa grande programação acontece em formato presencial e virtualmente.

 

Ativista indígena Yakecan Potyguara

O Itaú Cultural realiza, de 27 a 31 de julho (quarta-feira a domingo), a 9ª edição de Todos os Gêneros: Mostra de Arte e Diversidade. Neste ano, ela se volta para o universo artístico e para pautas reflexivas em torno da cultura lésbica. Ao longo de cinco dias, uma programação híbrida – presencial e online – joga luz ao tema em debates, shows, performances, peça, poesia e mostra audiovisual. As convidadas são todas mulheres cujo trabalho tem foco nesse recorte, por meio da arte e seu lugar de fala. Para complementar as reflexões, uma publicação especial é disponibilizada ao público em formato físico e virtual e com conteúdo inédito.

Toda a programação é gratuita. Para participar de cada uma das atividades presenciais é preciso reservar ingresso pela plataforma INTI (acesso pelo site www.itaucultural.org.br). A exceção é a performance TRAVED, cujos ingressos são distribuídos no dia da apresentação.

No formato online, uma série de debates acontece pela plataforma Zoom e as pessoas interessadas em acompanhar devem se inscrever pela Sympla, também com acesso pelo site do IC. Ainda, o portal da instituição abriga mostra audiovisual a ser disponibilizada de 27 de julho a 28 de agosto. Por fim, em sinergia com Todos os Gêneros, a plataforma Itaú Cultural Play adiciona ao seu catálogo sete novas produções audiovisuais, com a temática desta edição.

Presencial

Dani Nega, compositora, atriz, MC e ativista do movimento negro e LGBTQI+, abre as atividades presenciais na instituição, na avenida Paulista. No dia 27 (quarta-feira), às 20h, se apresenta na Sala Itaú Cultural com o show de lançamento da música e videoclipe oficial da autoral, Sai Boy, com participação da cantora Ellen Oléria e de uma banda formada por jovens músicos da cena musical preta.

Sai Boy, que é o segundo single de sua carreira solo, fala sobre a invisibilidade e marginalização de mulheres lésbicas por homens heteros cis que acreditam que elas são lésbicas por sentirem falta da presença afetiva masculina. O clipe está disponível no canal da cantora no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=gy6T3rzbFuQ

O show traz, ainda, outros elementos autobiográficos de Dani, mesclados com música eletrônica contemporânea e sonoridades pretas, como o funk/soul e o R&B. Com esse pano de fundo, ela aborda temas como racismo, violência urbana e apropriação cultural.

Na quinta-feira, 28, no mesmo horário, o show é da rapper, cantora, compositora e atriz paulista Katú Mirim. Descendente do povo Bororo e ativista da causa indígena, ela também faz uma apresentação autoral. Por meio do rap e do rock, a artista levanta questões pouco discutidas, como a presença indígena no contexto urbano, o uso indiscriminado de sua cultura e o tratamento dado aos indígenas no Brasil, em especial aos LGBTQ.

Sexta-feira, 29, a programação começa com TRAVED, palestra-performance em VR (realidade virtual) que acontece em três sessões: às 17h, 19h e 21h. Sob direção de Robson Catalunha, a ação é conduzida pela performer e professora de artes cênicas Dodi Leal. Ela questiona cenicamente o estatuto das biotecnologias na cena teatral atual aliada a uma reflexão simbiótica sobre a sua transição de gênero em analogia a um acidente de bicicleta que sofreu em 2015.

No sábado, 30, às 19h, a Sala Itaú Cultural é tomada pelo Sarau das Pretas, com as poetas Débora Garcia, Elizandra Souza e Jô Freitas, acompanhadas pelos percussionistas Taisson Ziggy e Fernando Coelho. Elas levam ao palco uma ação iniciada por Débora em 2016, com artistas negras atuantes no cenário cultural periférico da cidade de São Paulo.

A cantora Zélia Duncan faz show intimista, com a sua voz e o violão, no domingo, dia 31. Ela apresenta sucessos de sua carreira, como CatedralLá Vou EuSentidos e Enquanto Durmo, além de canções de seu repertório afetivo. A proposta de Zélia é remeter o público ao tempo e momento em que as canções foram compostas.

 

De 29 a 31, a programação presencial vai para a Sala Multiúso, com o espetáculo Cavalos Pretos São Imensos – às 21h na sexta-feira e sábado, e às 20h, no domingo. Nesta encenação de Thais Dias, com dramaturgia de Bárbara Esmenia, uma personagem em situação de cárcere sonha com o seu filho e se representa como um imenso cavalo preto. Ela e suas companheiras de cela, acredita, podem ser como este animal, tanto em sonhos individuais, quanto em suas estratégias coletivas de sobrevivência. No entanto, a peça não fantasia ou romantiza a situação. Ela revela a realidade carcerária do país.

 

Online

As atividades virtuais acontecem em mesas e mostras audiovisuais a respeito de debates sobre a cultura lésbica.  A série de encontros que integra a mostra Todos os Gêneros é realizada via Zoom e tem início no dia 28 (quinta-feira), às 16h, com a mesa Criando melhores mundos: sapas, suas literaturas e os afetos. Reunindo a pesquisadora, tradutora e premiada escritora gaúcha Natália Polesso e a ativista indígena lésbica cearense Yakecan Potyguara, fundadora do Coletivo Caboclas LGBTI+ Indígena, trata da presença lésbica na literatura. A mediação é da pernambucana Renata Pimentel, doutora em Teoria Literária.

A mesa Criando mulheres mundos: o gênero e os seus atravessamentos nos processos criativos conduz o encontro na sexta-feira, dia 29, no mesmo horário. Mediada pela escritora, poeta e jornalista Elizandra Souza, integrante do Sarau das Pretas, conta com as cantoras Dani Nega e Katú Mirim, além da escritora e dramaturga Bárbara Esmenia.

A trinca de debates fecha no sábado, dia 30, com a mesa (Re)Existência ou Insistência? Pontuações sobre a presença das mulheres nas áreas técnicas. Nela, quatro convidadas falam sobre seus processos no fazer artístico dentro desse setor: a performer e criadora paulista de instalações visuais Aline Santini, a dupla Camila Pedrassoli e Juliana Furtado, diretoras de produção e instrutoras na Guria Produtora, criada por ela no Rio Grande do Norte, e a iluminadora cênica pernambucana Luciana Raposo. O encontro tem mediação de Dodi Leal.

No site do Itaú Cultural www.itaucultural.org.br, tem programação audiovisual das 19h do dia 27 de julho às 23h59 de 28 de agosto, com a Mostra Coletivo Incendiárias. Dedicado à pesquisa e experimentação entre as linguagens do teatro, da performance e do audiovisual, o grupo exibe seis produções realizadas especialmente para Todos os Gêneros, a convite do Itaú Cultural, de artistas do Maranhão, Pará, Rio de Janeiro e São Paulo.

A carioca Chris Ubach é a performer de Lua Cheia, exibida nesta mostra. A produção traz uma mulher-bicho que nasceu sem ser aceita, ficou feroz e aprendeu a ocupar sua existência de sapatão, bicho solto e pessoa livre. Em Lixo, a paraense Luiza Braga parte dos comportamentos pautados pelo modelo patriarcal e reproduzidos entre mulheres para um encontro consigo mesma. Assim se autoquestiona, revê e parte em busca de um novo modo de existir sapatão.

Em A Mulher que Sou, a maranhense Áurea Maranhão aborda as “corpas” femininas, impedidas de ocupar seu espaço desde a primeira infância. Ao se tornarem mulher, porém, percebem o quanto pode ser libertador voltar a ser menina. A paulista Monalisa Eleno, por sua vez, integra a mostra com Vem, questionando as amarras que uma mulher precisa romper para viver seus desejos verdadeiramente.

Outras duas produções da mostra vêm de São Paulo. Em Tu, com Tay O’Hanna, uma corpa preta busca incessantemente pelo direito de existir como mulher, homem e todas as outras formas que cabem na imaginação. Em Nós 4, a performer Angela Ribeiro traz uma história sobre como o amor transgride e transforma quando uma mulher descobre esse sentimento por outra mulher e enfrenta as dificuldades das instituições: escola, família, estado. Duas mães, duas crianças e um pai distante.

Sinergia

A temática da cultura lésbica, que norteia a mostra Todos os Gêneros em 2022, também chega a outros espaços e formatos dentro das ações do Itaú Cultural.

Desde o início de toda a programação, dia 27, o site do IC disponibiliza uma publicação feita especialmente para a mostra. Em formato digital e físico – oferecida no prédio da instituição – ela contém artigos sobre música e literatura, além da diversidade de terminologias utilizadas na identidade das mulheres homoafetivas, suas representatividades e autoestima. Traz, ainda, entrevistas com a poeta, atriz, dramaturga e editora Bárbara Esmênia e com artista visual e pesquisadora Marília Oliveira.

Paralelamente a esta programação, no dia 29 de julho a plataforma de streaming do cinema brasileiro Itaú Cultural Play subirá em seu catálogo uma mostra de filmes em sinergia com Todos os Gêneros. Ela ficará em cartaz por um ano com as produções Cassandra Rios: a Safo de PerdizesTrópico de CapricórnioTea for TwoMinha História é OutraFragmentosA Felicidade Delas e À Beira do Planeta Mainha Soprou a Gente.

O acesso é gratuito em itauculturalplay.com.br e nos dispositivos móveis IOS e Android.

SERVIÇO

Todos os Gêneros: Mostra de Arte e Diversidade – 9ª edição

De 27 a 31 de julho (quinta-feira a domingo)

Saiba mais em www.itaucultural.org.br

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DIÁRIO DE BORDO NO JP

Vanessa Serra é jornalista. Ludovicense, filha de rosarienses.

Bacharel em Comunicação Social – habilitação Jornalismo, UFMA; com pós-graduação em Jornalismo Cultural, UFMA.

Atua como colunista cultural, assessora de comunicação, produtora e DJ. Participa da cena cultural do Estado desde meados dos anos 90.

Publica o Diário de Bordo, todas as quintas-feiras, na página 03, JP Turismo – Jornal Pequeno.

É criadora do “Vinil & Poesia” que envolve a realização de feira, saraus e produção fonográfica, tendo lançado a coletânea maranhense em LP Vinil e Poesia – Volume 01, disponível nas plataformas digitais. Projeto original e inovador, vencedor do Prêmio Papete 2020.

Durante a pandemia, criou também o “Alvorada – Paisagens e Memórias Sonoras”, inspirado nas tradições dos folguedos populares e lembranças musicais afetivas. O programa em set 100% vinil, apresentado ao ar livre, acontece nas manhãs de domingo, com transmissões ao vivo pelas redes sociais e Rádio Timbira.

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