Primeira balada rock steady do Maranhão vai rolar no Miolo Bar

Pai do reggae, gênero musical dos anos 1960, inspira paixão e dança na Jamaica Brasileira Vem aí a primeira balada rock steady do Maranhão, algo surpreendente em se tratando de um gênero jamaicano, dançável e pra cima, cultuado mundo afora como uma das sínteses musicais mais ricas que a ilha caribenha já produziu – ora, como é que a Jamaica Brasileira deixou escapar?

O projeto começa no próximo sábado, 12 de agosto, durante a Feirinha do Vinil, no Miolo Bar, com as seletas sequências de Joaquim Zion, Doctor Reggae e Selectah Groove, DJs com anos de história e pesquisa nesse universo. As delícias sonoras trazem nomes como Ken Boothe, Bob Andy, John Holt, Dennis Brown, Jackie Mittoo, Jacob Miller, Alton Ellis, Larry Marshall, Marcia Griffiths e Bob Marley, entre outros jovens artistas que se tornariam bastante conhecidos pelo mundo, assim como na cena maranhense.

Clima relax

A música jamaicana chegou à segunda metade do Século 20 embalada por tambores ancestrais, cânticos de trabalho e de culto, mas também sob a influência das big bands do jazz, inundada pelo rhythm’n’blues e exposta às novas tendências do hit parade mundial, como o calipso, o mambo e até a bossa-nova.

A primeira erupção veio no início da década de 1960, com o ska. Essa matriz do ritmo sincopado que fez a fama da Jamaica surgiu acelerada, alegre, carregava a esperança de dias melhores, como prometia a festa de independência do país, em 1962. A banda The Skatalites era a sensação, e com sua metaleira pesada, baixão e bateria, ecoava nos sound systems e nas sessões de estúdio, acompanhando os novos cantores e cantoras que não paravam de aparecer – Bob Marley, por exemplo. Dizem que foi se tornando habitual os músicos darem uma reduzida no andamento de algumas músicas durante as apresentações.

O calor intenso, o pulso frenético do ska… Era nesse momento, tocando mais devagar, que eles descansavam um pouco. Não demorou pra que esse clima relax chegasse aos estúdios, ganhasse arranjos finíssimos e gerasse algumas das mais incríveis canções da música jamaicana, relançadas depois como reggae, mais tarde como dancehall, ragga, gravadas, remixadas e sampleadas até hoje por artistas do mundo todo. Get ready, come to rock steady! “Those Guys” (The Sensations, 1968), “Feel Like Jumping” (Marcia Griffiths, 1968) “Queen Majesty” (The Techniques, 1967), “The Tide is High” (The Paragons, 1967), “Moonlight Lover” (Joya Landis, 1968), entre vários outros clássicos do rock steady, o pai do reggae, vão rolar direto do vinil neste sábado – o que não acontece a toda hora.

O DJ e pesquisador Joaquim Zion conta que o que sempre o chamou muito a atenção no rock steady foi a forte influência do soul norte-americano, especialmente os vocais, com muita harmonia, quase sempre três cantores, às vezes só um mesmo, mas também com vocais atrás.

“O rock steady marca também a propagação da filosofia rasta entre os artistas naquela segunda metade da década de 1960, algo que atingiria o ápice pouco depois, com o reggae”, diz Otávio Rodrigues, Doctor Reggae.

Tesouro esquecido

Reconhecida como capital nacional do reggae, São Luís não deixa por menos: são 50 anos de tradição, centenas de personagens icônicos e incontáveis momentos históricos compondo essa fama, aqui e lá fora – sim, a índole jamaicana da cidade é sabida e comentada no mundo todo.

É de imaginar, portanto, que a música jamaicana seja aí cultuada de maneira ampla, diversa, e que o regueiro esteja exposto às suas muitas vertentes, como o ska e o rock steady, tão seminais quanto o reggae. Só que não. Deu-se que, por conta do andamento insinuante e do gosto dos maranhenses pelo jeito agarradinho de dançar, foi o reggae que acabou consagrado nas radiolas, deixando pouco espaço para outros tesouros musicais da ilha caribenha.

Os regueiros mais antigos, sim, tiveram acesso às empolgantes batidas do rock steady, disparadas no final dos anos 1970 e na década seguinte por pioneiros como Riba Macedo, Neturbo, Josias Medalha, Zequinha Rasta, Nayfson, Serralheiro, tocadas no rádio por Ademar Danilo e Fauzi Beydoun. Coletâneas como Reggae from Jamaica (Continental, 1977) e Super Reggae (WEA, 1979) e álbuns primitivos de Jimmy Cliff e Bob Marley & The Wailers, entre outros poucos discos lançados à época no Brasil, vinham embebidos dessa onda.

Com o tempo, assim como havia acontecido na Jamaica, o reggae se espraiou, deixando o reluzente rock steady meio no esquecimento. E o que os idealizadores do projeto Rock Steady – O Baile e seus convidados vão fazer sábado (e daí por diante) é isso: abrir o baú e revelar as joias.

 

ROCK STEADY – O BAILE + Feirinha do Vinil

Sábado, 12 de agosto, 17h

Miolo Bar – Av. Litorânea, 100 Couvert R$ 15

 

 

(Da redação com informações da Assessoria)

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DIÁRIO DE BORDO NO JP

Vanessa Serra é jornalista. Ludovicense, filha de rosarienses.

Bacharel em Comunicação Social – habilitação Jornalismo, UFMA; com pós-graduação em Jornalismo Cultural, UFMA.

Atua como colunista cultural, assessora de comunicação, produtora e DJ. Participa da cena cultural do Estado desde meados dos anos 90.

Publica o Diário de Bordo, todas as quintas-feiras, na página 03, JP Turismo – Jornal Pequeno.

É criadora do “Vinil & Poesia” que envolve a realização de feira, saraus e produção fonográfica, tendo lançado a coletânea maranhense em LP Vinil e Poesia – Volume 01, disponível nas plataformas digitais. Projeto original e inovador, vencedor do Prêmio Papete 2020.

Durante a pandemia, criou também o “Alvorada – Paisagens e Memórias Sonoras”, inspirado nas tradições dos folguedos populares e lembranças musicais afetivas. O programa em set 100% vinil, apresentado ao ar livre, acontece nas manhãs de domingo, com transmissões ao vivo pelas redes sociais e Rádio Timbira.

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